04 março, 2007

SABORES PASSEADOS, (3)
- ideias ralas no Congresso das Açordas

CONGRESSO DAS AÇORDAS - Portel, Março de 2007
Sons
de manducar

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Isto dos comeres e dos beberes é também acto social cercado de manifestações lúdicas e estéticas. Um aspecto que quase não reparamos é o das sonoridades: dos talheres aos copos, das conversas ao retirar de uma rolha, do arrastar de uma cadeira ao abrir de uma porta. Tudo, claro está, antes daquela peregrino hábito de povoar os restaurantes de toques de telemóveis ou de conversas gritadas para um interlocutor invisível atroando os sentidos de quem nas mesas em redor se encontra instalado.

Esta história dos sons tem muita importância. Lembro-me que, já lá vão uns 20 anos, quando comecei a fazer ouvir em directo na rádio o ruído de um vinho que escorre para um copo e tornava audível os movimentos de um garfo ou de uma faca, ouve quem ficasse muito incomodado e viesse sentenciar que eram coisas que se não faziam, davam mau aspecto, entendem? Volvidos estes anos, agora toda a gente imita... assim como toda a gente explana teorias sobre gastronomia e similares. Toda a gente... menos eu, que continuo a não saber nada disso. E já é a tarde para aprender.

Recordo um outro dia cedo de fim de Inverno. Devia ser quase por esta altura do ano, a rádio fora amanhecer a Castelo de Vide. Antes de chegarmos às boleimas, e depois do café da brasa, fazíamos honras a uma migas. Refeição leve... que, para início de jornada, não deve haver muito esforço e (conforme repetia Carolino Tapadejo, então presidente da Câmara Municipal) um homem não é de ferro...!!! Estávamos neste despropósito, lá para as bandas da Carreira de Cima, quando apareceu um cidadão qualquer que estava a ouvir a rádio e foi lá de propósito para saber se era verdade que estávamos a comer ou se eram apenas efeitos especiais. Como se nós fôssemos nessa coisa de comer os cenários...


Continua

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