Onde está o Degebe? Procuro o conhecido e não o encontro: já ali não está. O “meu Degebe”, aquele que eu conheci em anos de reportar futuros, antevendo a então miragem do Alqueva; aquele em cuja foz deixei atolar um jeep para aflições de socorro pedido aos bombeiros de Portel – esse Alqueva já não existe. Foi rio, agora é mar. Desconheço a paisagem.
| Estarreço ao olhar as águas que já vi meninas. Desci da aldeia de riba. Não percorri as picadas de outrora, tacteando matos. Agora vou pela estrada que de Portel leva à Amieira e, de repente… Águas gordas, marítimas – o regolfo. O imponente oceano do Alqueva. Com barcos que singram as imponências deste lago (dizem que é o maior que o homem “fabricou” nesta Europa). Barcos quase iates que navegam acenos às margens no que antes foi Guadiana e foi Degebe e foram todos os nomes. Barcos com solário, com sonares que salvam das armadilhas (ilhas ocultas) de um leito que de outro modo seria traiçoeiro. Barcos que transportam até doze pessoas, alugáveis prodígios para passear mar dentro, nos rumos da Estrela, de Moura, de Mourão, de Cheles. Maravilhas aproveitáveis por turistas de pés bem calçados.
Num destes barcos marinho eu mai-la companhia que o Rui trouxe ao Alqueva. Bebo silêncios. Mastigo sossegos. Visto-me de sol espojando-me no pequeno deck. E olho, olho, olho a bombordo e a estibordo em esforço de decifrar paisagens que eu já não conheço. Isto mudou, sim senhores. Apenas as vacas, ainda subversivas, continuam iguais ao que foram, modorrando o pasto até à beira-lago: são subversivas, recusam as leis, os regulamentos que as repelem da beira-água. E teimam em mostrar-se. Em ficar. Em resistir. Benditas sejam por isso mesmo. |
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Para que serve este mar novo que cresceu no lugar de sobros e azinhos? Para irrigar solos, diz-se. Esperemos que seja. Que Portugal é lugar mais de esperas do que tem sido de esperanças, e o Alentejo que o diga. Mas fala-se em greens, em golfe. E eu receio.
Receio. Tanto que esperámos por este Alqueva. Agora não o matem.
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