Parar ali? Nem pensar...!!! |
Confesso que durante muitos anos passei pela antiga estrada Évora-Beja muito lampeiro, admirando de longe o castelo de Portel, mas sem me atrever a mirar as ruas da vila. Era coisa instintiva, e nada me demovia – nem comovia – , nem mesmo o pitoresco relatado por médica amiga que ali cumpriu não o serviço militar, porque de quartel não há memória fresca, mas sim o serviço médico à periferia. E Saramago, claro, na sua incontornável volta a Portugal.
É verdade que a curiosidade já andava desperta porque se falava da administração autárquica da terra no pós-25 de Abril, pois um presidente lendário – de tão contestado e odiado por uns, ao mesmo tempo que admirado e encomiado por outros – teria sido eixo de uma reviravolta. Mas que pode dizer-se quando a vontade não puxa?
E se eu andava por ali… Vida de reportagem, pois claro, e quando havia secas lá estava caído, ao largo, entenda-se. E se um novo governo acenava com o arranque próximo da construção de Alqueva também se me dava para tomar a estrada para Moura e ala que se faz tarde. Parava em Cuba, Alvito, que querem? Mas ali, nem pensar. Até que um dia li que estava a funcionar na terra um belo hotel rural, o Refúgio da Vila, que foi coisa rara, de Évora para baixo, por muitos e demorados anos. Exceptuada a bela pousada ex-Enatur, em Beja.
Deu nova volta, a vida, para me demorar num outro projecto que implicava andanças pelas terras do Baixo Alentejo – e lá aboletei e amesendei. Estava a casa ainda nos verdes anos, mas o ambiente cativava, de quartos catitas, confortáveis, cozinha incipiente mas tranquila, demorada como se quer por estas bandas. Fui ficando cliente, do hotel, claro, mas também da vila. Parava, desfazia-me do pó das jornadas, cirandava pelas ruas e ruelas, deitei os olhos lá do alto, tive os primeiros contactos com a rota do fresco que na altura ainda não era. Pelo menos com nome posto.
Descobri outros pousos, até que num vizinho restaurante S. Pedro também os comeres e beberes estavam a um passo de justificarem, por si sós, a visita.
De modo que Portel passou a valer a pena, apesar de pairar nos meus ouvidos ecos de um grupo coral, o dos Cantares Regionais de Portel, com umas cantigas que me irritavam – o coral de tradição andava por aí assassinado nuns ritmos que nem sabia dizer. Mas disto eu não provava, nessas escapadelas.
Fotos: Antunes Amor (direitos reservados) Clique nelas para ampliar |
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