Janeiro de Cima e as casas de xisto continuam com pano para mangas. São ainda os ecos da passagem do Passeio de Jornalistas pelo Fundão.
Mas, onde era suposto o cronicar e o reportar dos homens da comunicação que connosco rumaram à Beira Interior, juntaram-se vozes autorizadas de arquitecta interveniente e de antropólogo activo. E... deu no que deu!
Chega-nos agora outra achega para a discussão. Veio sob a forma de comentário a um post. Assinado por João Dias, não resistimos a trazê-lo aqui, para maior exposição e visibilidade. O debate prossegue aberto.
* * * * *
Saudações!
Li com interesse o artigo aqui publicado. Sou filho da terra e particularmente atento a este assunto uma vez que estudo arquitectura.
Tal como a autora tenho algumas dúvidas em relação aos caminhos tomados na intervenção feita em Janeiro de Cima... mas também tenho opinião divergente da dela em algumas questões...
Em primeiro lugar, esclareço que a minha proximidade a esta terra possa interferir na minha análise tornando-a parcial...
Em relação ao suporte económico da aldeia, à muito que este deixou de ter base na agricultura. A que ainda é feita tem como finalidade o consumo próprio e praticada por pessoas não-activas (reformados) ou em "horário pós-laboral:P". A grande maioria da aldeia vive dos serviços, com muita gente ligada a construção civil, comércio, restauração e uma pequena minoria ligada à pecuária.
Em relação ao turismo concordo com a autora... a minha opinião pode ser lida aqui. Em relação à retirada dos rebocos nas casas de pedra a minha opinião diverge...
De facto, algumas (muito poucas) das casas eram rebocadas pelos seus construtores, mas isso eram excepções (casas de padres, famílias mais abastadas e a própria igreja)... Mas a maioria das casas do núcleo antigo da aldeia foram rebocadas a partir dos anos 60/70 não pelos seus construtores (que a mt já tinham falecido) mas pelos filhos da terra que tinham partido para França e onde aprenderam novas técnicas de construção. Assim a maioria das casas, inicialmente de pedra à vista foram rebocadas, colocaram-se telhados de zinco ou "lusalite" e substituíram-se as caixilharias de madeira, por novas de metal (ferro ou alumínio)… estas alterações permitiram que estas casa chegassem até hoje, sem elas estariam hoje todas em ruína… assim estão lá, alteradas, mas estão lá…
Quanto a mim, embora a minha opinião seja pessoal, pode (talvez deva) ser feito nestes casos, uma recuperação da identidade original da construção… isto não para promover o turismo… mas sim para devolver aldeia uma identidade perdida num curto período de poucas décadas… Constato também que na maioria dos casos os proprietários das referidas casas (na grande maioria já diferentes daqueles que as possuíam quando foram rebocadas) têm agora vontade de as ver com a sua identidade original.
Mais questionáveis quanto a mim são outras intervenções, nomeadamente na igreja.
Este edifício centenário, resultado de vários acrescentos sucessivos, viu destruído o seu último acrescento… a torre do relógio! Com a justificação de que era um acrescento! Tal como as todas as outras partes da igreja e onde até já temos dificuldade em distinguir um corpo inicial. Na torre sineira foi ainda retirado o reboco, deixando a pedra à vista… aqui sim oponho-me, uma vez que esta construção sempre teve como intuito (como alias se pode ver pela técnica empregada na alvenaria de pedra) ser rebocada com argamassa. (Foto da igreja aqui:)
Questiono ainda a orientação das intervenções para os edifícios privados. O dinheiro para esta recuperação da aldeia bastante, mas não ilimitado… e muito pouco cuidado foi dado aos espaços e equipamentos públicos, quando o houve, foi através de intervenções superficiais, pouco aprofundadas.
Acho que se o dinheiro fosse utilizado nestes casos, de forma bem gerida, e com intervenções de aprofundadas, o exemplo dado pela autarquia nos seus edifícios e espaços públicos, poderia servir de canalizador e exemplo para intervenções de privados pela sua própria iniciativa, estas sim genuínas, de acordo com a vontade e necessidade da população e não “impostas”…
Bom… fico por aqui, desculpem este testamento mas o tema entusiasma-me…
João Dias - joao_dias@msn.com
Fotos: Antunes Amor (direitos reservados) | Clique sobre elas para ampliar |
1 comentário:
"Igreja velha" de Janeiro de Cima
Enviar um comentário