14 outubro, 2006

Aventura no Fundão:
com Eugénio de Andrade...


Suportada por Castpost



Agora os nomes que martelam o sono,
turvos ou roídos da poeira:
Póvoa, Castelo Novo, Alpedrinha,
Orca, Atalaia, nomes porosos
da sede, onde a semente do homem
é triste mesmo quando brilha.

* * * * *

ao céu camponês da minha infância [devo] esse princípio de paixão que me leva a procurar nas palavras o rumor do mundo.

* * * * *

Acordar, ser na manhã de Abril
a brancura desta cerejeira;
arder das folhas à raiz,
dar versos ou florir desta maneira.

Abrir os braços, acolher nos ramos
o vento, a luz, ou o quer que seja;
sentir o tempo, fibra a fibra,
a tecer o coração de uma cereja.

* * * * *

gosto das palavras que sabem a terra, a água, aos frutos de fogo do verão, aos barcos no vento; gosto das palavras lisas como seixos, rugosas como pão de centeio. Palavras que cheiram a feno e a poeira, a barro e a limão, a resina e a sol.


Eugénio de Andrade
Eugénio de Andrade
Eugénio de Andrade
Eugénio de Andrade

Imagens retiradas da página
da Fundação Eugénio de Andrade

EUGÉNIO DE ANDRADE
[Póvoa da Atalaia/Fundão, 1923 - Porto, 2005]

2 comentários:

MGomes disse...

É sempre muito bom, ouvir Eugénio de Andrade. A Poesia é a forma mais sublime de dizer as coisas.

tb disse...

e como ele sabia cantar as coisas genuinamente essenciais da vida...
Fui este ano a Alcongosta, ao festival da cereja. Um festival da natureza em todo o seu esplendor...
Um abraço