18 dezembro, 2008

Fiquem com o cimento armado, que... eu vou passear!

E bruscamente descobriram o Turismo como elixir milagroso e mezinha para todas as maleitas. Da balança de pagamentos, ao desemprego. Sem cuidarem de saber se… do remédio não virá a morte do doente, à força de o pretenderem pujante e soberbo.

E apostam vendê-lo a metro. Confundindo imobiliária, que é cimento armado e construção civil, com indústria do Turismo, que é lazer, acolhimento, descoberta, prazer de viagem e passeio. Como se pudesse existir alguma ligação entre as duas. E se a primeira – quase sempre - não matasse a segunda. Ou se, pelo menos, não a desvalorizasse: banalizando destinos à força de os tornar semelhantes com o afã de responder ao que erigiram (não se percebe bem porquê) como motivações de consumo de visitantes e passeantes. Esquecidos, até, daquela máxima que diz que (o que vende) é a diferença.

Olhando para a febre de Planos de Interesse Nacional que por aí vai, quase apetece dizer, «abençoada crise económica» (aqui se me der na gana posso mesmo falar em recessão) sim, abençoada crise… se der para fazer desistir da construção de umas quantas “aldeias de índios” para turista pernoitar ou senhor da cidade grande fazer férias. E talvez os terrenos circundantes da bacia de Alqueva se não encham de casinhas a macaquear construção tradicional de cal e passado, em aldeias de brincar. Há quem tenha esquecido mesmo de onde vieram os dinheiros para a barragem e a justificação (interna ou comunitária) para esse gasto.

Chegámos a um extremo de delírio tal que já há quem não consiga olhar para um terreno na beira de água sem imaginar campos de golfe… apartamentos de férias e… (claro!) um SPA.

Por mim, este fim-de-semana vou para o Sul, para as Terras do Grande Lago. Desvendar velhas artes de olaria no Corval, ler segredos de pedra e história em Monsaraz, encher olhos e alma com aquela imensidão de Alqueva. E quero reencontrar o Degebe, provar o caldo de cação, as migas, o cozido de grãos, o porco preto. E quero as modas e cantes de um coral alentejano. E quero sentir a terra como se lhe pudesse guardar brisa, cheiros e cores.

Precisava de mais tempo para reencontrar rostos e ingenuidades e estórias. Fica para outra altura. Com mais tempo. Com mais calma... de Alentejo!

Texto originariamente publicado
na revista Café Portugal

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