Na Póvoa da Atalaia a sombra de Eugénio
– a tua sombra: aqui nasceste menino Fontinha, José de teu nome. E adolesceste. Antes de seguires outros rumos pelos afluentes do silêncio, as mãos recolhendo os frutos das lavouras que foste achando. Vivendo o tempo. Retecendo o tempo. Tu e a tua boina negra, galega. Tu e os teus cabelos brancos, desgrenhados, que encontrei à beira Douro, diante da Foz, onde os encontrei.
Venho à Póvoa e reencontro-te. Tu ainda aqui estás. Sempre aqui estiveste, mesmo quando deixaste de ser menino, de ser José, de ser Fontinha, e te crismaste Eugénio e fingiste que entravas na “pátria dos Andrades”.
Chegando à Póvoa redescubro-te . E contigo recapitulo a lição:
“Diz homem, diz criança, diz estrela.
Repete as sílabas
onde a luz é feliz e se demora.
Volta a dizer: homem, mulher, criança.
Onde a beleza é mais nova”.
Olho. Relembro as mãos. Relembro os frutos. Compreendo. E rezo-te:
“Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos”
1 comentário:
"Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um
- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum"
Para ler, para ser invadido de emoções, para amar, para partilhar…
Sempre presente a ternura o amor na poesia de Eugenio de Andrade!
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