21 dezembro, 2005

Reflexões à hora de almoço...

Sim... porque há hora de almoço também se pode reflectir... Principalmente quando é um almoço em busca de memórias.

Eu explico: para matar saudade do velho "Nobre" da Ajuda - santuário de virtudes, sabores e saberes, por três vezes vencedor do Concurso da Gastronomia de Lisboa e porto seguro para todas as degustações - atravessei a ponte Vasco da Gama em direcção ao Montijo. Tinham-me dito que era fácil, bastava seguir as indicações de sinalização e era logo ao pé da Praça de Touros. Foi o que fiz, na esteira dos pratos saídos das mão da Justa Nobre. Gostei! Quase deu para esquecer os devaneios da Marina da Expo ou os da Doca do Espanhol. Casal rijo aquele, nadando a vigorosas braçadas para escapar de remoinhos em que só o valor reprodutivo do capital conta... como se a gastronomia se pudesse converter em indústria de fabricação em série e lucros garantidos. Lá poder, pode... mas dá outra coisa... que não me apetece agora chamar pelo nome que merece.


Gostei e recomendo. Mas dei comigo a pensar nisso de que tanto agora se fala... esse mito da Gastronomia como Património Cultural Nacional. Devem estar a gozar connosco ou então esqueceram-se de explicar isso à Fiscalização das Actividades Económicas e a outras Fiscalizações. Que desataram a proibir o fabrico artesanal de tudo o que é enchido, queijo ou qualquer outro produto de comeres artesanais. E que estão a matar a gastronomia portuguesa. Claro, tudo sempre em nome da "defesa da saúde pública". Como o José Quitério, brilhante cronista do Expresso, também eu já estou farto desta história/pretexto da saúde publica com que me querem proibir de comer um requeijão que não venha numa embalagem de plástico ou não me permitem que coma um enchido de sangue do meu porco - porque na PEC onde me querem obrigar a fazer a matança misturam todos os sangues em tulha geral e eu não sei - sequer - o que é que me dão no fim.

Se isto é progresso... eles que fiquem com ele! Eu gosto mais daqueles "peixinhos da horta" que comi no "Nobre" do Montijo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Tal e qual as frutas, todas lavadinhas, cheias de brilho, tratamentos vários, tudo em prole da saúde pública,e para rematar mais um pouquinho de publicidade enganosa.

Anónimo disse...

Vim aqui agradecer e retribuir os votos de Boas Festas.
Em relação a este artigo que li com o maior interesse e atenção, digo, como o outro: "outros valores mais altos se levantam...." e nós sabemos quais!!!!
Também me incluo no grupo dos que apreciam o que é verdadeira e genuinamente nosso
Abraços
Teresa Bonito