24 julho, 2009

A culpa é do Facebook. recordações de uma navegação de lancha entre as Flores e o Corvo

A net tem destas coisas...
No meio de uma imensidão de pedidos de conexão no Facebook (e alguns têm de ser recusados por ofensivos, reprováveis ou desinteressantes...) surgiu um que tinha qualquer coisa de familiar. Seria a imagem do Barco? Seria a denominação Netos de José Augusto?

Ora eu conheci um Mestre José Augusto, senhor de artes de navegação entre a Ilha das Flores e o Corvo. E uma olhada pelos contactos daquele "perfil" revelou-me um rosto de confiança inabalável: um grande profissional de rádio dos Açores, o António Sousa.

Mesmo assim, ainda questionei os "Netos" acerca de quem eram. A resposta veio de pronto:
Este era um barco que fazia a ligação entre a ilha das Flores e a ilha do Corvo. Durante muitos anos José augusto foi o senhor das ligações entre as duas ilhas. Os netos que continuaram com o negócio quiseram homenageá-lo na nova embarcação.
O barco opera agora na ilha de S. Miguel, com pequenos cruzeiros.
A minha resposta foi imediata:
Já desconfiava que falavam do Mestre Augusto da Lancha.
Conheci, viajei, compartilhei mesmo com a vintena de companheiros da comunicação social que - já lá vão uns anos - levei ao Corvo.
E lembro uma exclamação que ouvi à chegada:
- Vierem de barco? Agora já há avião...
Ou.. a "burrice" daqueles continentais que tinham preferido viajar das Lajes das Flores para o Corvo na Lancha de Mestre Augusto...

Porque eles eram completamente burros.
Ao invés do avião, optaram por tactear os recortes da ilha das Flores com Mestre Augusto ao leme, na contemplação de baías e falésias. E depois, quando quase circundada a ilha se atreveram a mar largo e fundo, tiveram escolta de golfinhos até ao Corvo.

Saída das Lajes das Flores.
A Lancha encosta no cais do Corvo.
Mestre Augusto dirige a amarração
.
O reboliço era total, com fotógrafos e operadores de imagem correndo de uma borda à outra do convés à cata do melhor ângulo - o Victor Bandarra TVI é que me podia arranjar algumas imagens da travessia... ele ou os homens da IRIS (uma produtora de São Miguel que assegurava a captação de imagens para aquele canal de televisão).

Nesta excitação toda... já estava o Corvo à vista e iniciava-se a a manobra de aproximação. Ainda mal o pé em terra, e veio o tal comentário disparado do grupo de corvinos que "em cima do cais" espreitava a cambada de "doidos" do continente com manias de navegação de lancha...

Foram dias inesquecíveis. Os jornalistas tiveram de ficar espalhados por diversas casas a da ilha... que a pequena pensão não tinha capacidade para tão súbita procura. Houve quem fosse para casa do carteiro, para casa do médico...
Eu, como organizador do Passeio, fiquei na pensão. E lá tive de compartilhar o quarto com o José Quitério.
Mulher com ilha em fundo...

Penso que nenhum de quantos viveram essa aventura a irá esquecer. E quando chegou o "Serão Corvino" e as vozes se encontraram com as violas descobrimos que a "Saudade" (que já ouvíramos cantada nas outras ilhas) ganha sentidos quase cortante no Corvo.

Daí a uns anos regressaria eu ao Corvo para experimentar a emoção de uma emissão de rádio em directo a partir da mais pequena parcela de terra dos Açores.
Na altura, uma proeza de telecomunicações, possível pelo empenho dos homens da Portugal Telecom e dos meus companheiros da RDP Açores.

Uma cavaqueira de fim de tarde interrompida pelo fotógrafo...
Quem ainda se deve recordar é o Nuno Ferreira (nesses tempos jornalista do "Público" e agora peregrinando com o seu Portugal a Pé) que eu levei comigo "à boleia".

Tempos em que ainda me era permitido trabalhar na Rádio Pública...


Imagens do
Passeio de Jornalistas
no Corvo, 1993
Fotos: Antunes Amor (direitos reservados)
Clique sobre elas para ampliar

2008, de novo o PASSEIO DE JORNALISTAS nos Açores

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