05 março, 2007

SABORES PASSEADOS, (5)
- ideias ralas no Congresso das Açordas

CONGRESSO DAS AÇORDAS - Portel, Março de 2007
"Senhor Presidente,
posso citá-lo?"

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Vai mais uma historia e regresso a Castelo de Vide já com outro presidente de Câmara: o presidente Canário, primo daqueloutro Canário autarca no Barreiro(o que estava às portas de Lisboa era dos comunistas, o do Alentejo tinha-se quedados pelo PS).
Mas passemos á frente que isto em nada adianta para o caso... dizia eu que andava pelas bandas de São Mamede com um grupo de jornalistas que levara para aqueles lados. Almoçávamos um ensopado de borrego. No aceso das conversas, o presidente da Câmara descai-se dizendo que o Matadouro local funcionava sempre que era preciso e que, no quadro de pessoal da Câmara, conservava o veterinários e os funcionários dos ofícios adjacentes. “Senhor Presidente, posso citá-lo?”, pergunta o saudoso, e grande camarada desse ofício das notícias, Adriano da Carvalho, na altura trabalhando para a LUSA. “À vontade - responde o Canário presidente - porque sempre é melhor ser visto pelo veterinário antes do abate, do que morto debaixo de um chaparro como esse que os senhores estão a comer”.
Silêncio profundo a sublinhar o desconhecimento de que ninguém iria fazer cem quilómetros até à PEC para abater quadrúpede de tão reduzidas dimensões. “E se o meu porco é criado a bolota, o que é que eu levo para casa? do sangue que sai da tulha geral onde se mistura com o dos outros todos que só comem rações?” Foi outra pergunta que por ali surgiu... Como, além de não saber nada de gastronomia nem de turismo, a veterinária é para mim uma ciência do oculto, fiquei quedo a ver se ninguém dava pela minha presença...

Destas coisas das comedorias, não que dispense desvanecimentos e enleios do palato, gosto de guardar enquadramentos e afectos. Por isso, sempre que recordo Portel, vem-me à ideia aquele estabelecimento de petiscos, bebidas e convívios que havia ali no largo e deu em dependência bancária. Valia a pena trepar a escada até lá acima para umas sopas de pão ou uns chouriços assados naquela lareira que dava para sentar, conversar, saborear... mas sobretudo para estar acompanhado. Porque, como me costumam lembrar sempre que ao Alentejo vou, nunca se viu um alentejano a cantar sozinho.

Isto de passear não é fácil. Principalmente o passear de obrigação, o chegar a uma terra e não ter ninguém à espera, o ser obrigado a rapidamente travar conhecimentos, entabular conversas, a procurar perceber como se movem os dias e se ajeitam as vidas desse lugar.


Continua

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