11 junho, 2007

As Festas são do Povo! (4)

A filarmónica
mais colorida do mundo...

IR PARA O PRINCÍPIO


CAFÉ PORTUGAL - Festas do Povo de Campo MaiorFoi um dor de alma o que choveu naquela noite.
E as flores de papel, que demoraram meses a recortar e colar, fustigadas por aquela água toda... Já nem recordo quem actuava no palco da Comissão das Festas do Povo, mas nunca esqueci que no espectáculo do Sporting Clube Campomaiorense era a vez da Lena d'Agua - que não teve culpa nenhuma daquela noite de invernia em pleno mês de Setembro.

Manhã cedo, logo que clareou e se puderam ver os estragos, era um desespero: tudo encharcado, o trabalho de tantas mãos e tantos dedos destruído numa noite. Havia mulheres que choravam nalgumas ruas e homens que não o faziam por vergonha. As Festas pareciam definitivamente perdidas naquele ano.

CAFÉ PORTUGAL - Festas do Povo de Campo MaiorDessa vez, o repórter de rádio que contava as flores de Campo Maior tinha optado por uma série de convidados escalonados em cada uma das manhãs da Festa, aí por volta das oito da matina. Como não distavam muito uma eleições autárquicas, havia nomes a que se não podia fugir: Fernando Caraças que era presidente da
Câmara, Gama Guerra que queria ser presidente, João Carita que até podia ser presidente se algum dia o seu partido estivesse interessado em ganhar, Manuel Rui Nabeiro por quem passavam muitas respostas a muitas interrogações, e... (bem, o quinto nome, francamente, não recordo quem era).

Naquela dia o convidado era Rui Nabeiro e quando se falou nas Festas, além do lamento pelo dilúvio, vieram palavras de desafio e incentivo. E, a dois, quase decidimos que a Festa não estava acabada.

Estavamos nós neste apelo em directo quando começámos a ouvir acordes de banda, cada vez mais próximos, cada vez mais nítidos. Era a Banda 1º de Dezembro que percorria as ruas de Campo Maior, tocando a reunir.

Café Portugal - FESTAS DO POVO (Campo Maior, 2004) - Foto M. Conceição Coelho (direitos reservados)Claro que o apelo da Banda foi muito mais eficaz que o da rádio (não tenho pretensões nessa área). E, vasculhados os restos de papel e de cordel que ainda haviam restado pelas Comissões de Rua, as mãos voltaram ás flores. Até o sol colaborou, regressando com um brilho fulgurante que foi secando a água das enramações.

Não há imparcialidade ou distanciamento de jornalista que resista aquela imagem de homens e mulheres de Campo Maior, enxugando lágrimas e deitando mão à obra. Quem, no dia seguinte, passou por Campo Maior não conseguiria imaginar a desolação da noite do dilúvio.

E a 1º de Dezembro ganhou o título (à falta de melhor instância atribui-lhe eu logo a comenda) da banda mais colorida do mundo. Porque, à força de tocar pela ruas à mercê dos salpicos que vinham lá das flores do alto, as suas fardas (rostos e instrumentos) foram-se colorindo com a multiplicidades das cores das escorrências da flores. Nada que os preocupasse: estavam a tocar pelas Festas! E conseguiram!

CAFÉ PORTUGAL - Festas do Povo de Campo MaiorDou um doce a quem descobrir quem terá sido o autor deste comunicado.


(Imagem reproduzida de
Campo Maior, As Festas do Povo das origens à actualidade,
Livros Horizonte, 2004,
de Francisco Pereira Galego)


Clique para ampliar

1 comentário:

Barão da Tróia II disse...

Esta história só mostra uma coisa, a chave para o progresso deste país, honra, dedicação, sacríficio e trabalho, mai nada! Não conhecia o episódio, mas parabéns pela exemplo de valor, boa semana.