21 outubro, 2008

Um almoço no "Cortiço", em Viseu: Sabores com substância e... um convidado especial!

Café Portugal - PASSEIO DE JORNALISTAS - Viseu
A chegar ao Largo Mouzinho de Albuquerque, em Viseu

Quem lhe conhece a justa fama não pode deixar de regalar apetites ante a promessa da mesa farta e boa. Ir ao restaurante O Cortiço em Viseu é sinónimo de antecipar prazeres gustativos em torno da cozinha Beirã. Desta feita, para além dos deleites gastronómicos, houve a garantia, concretizada, de presença ilustre. A mesa descontraída e informal serviu de bom propósito a uma conversa com Fernando Ruas, Presidente da Câmara Municipal de Viseu. Fernando Ruas, enquanto Presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) também esteve presente, embora a circunstância de sentar 20 jornalistas à mesa visiense acabasse por sobrepor o edil ao responsável máximo da ANMP.

Antes do discurso, o lugar que lhe deu enquadramento. O Cortiço cresceu, mas fê-lo com comedimento, ganhando uma nova sala (do outro lado da rua Augusto Hilário, próximo à Praça D. Duarte), sem os exageros de grandeza pretensiosa que já eclipsaram muitos restaurantes. Frente a frente, entre portas são dois ou três passos entre o “velhinho” e o recente Cortiço. O novo espaço que serviu de assento ao presente repasto seguiu as passadas da casa fundada por Dom Zeferino nos anos sessenta do século XX. Serafim Campos, o actual proprietário, prescinde da opulência, aproveita a arquitectura original do edifício e criar ambiente com a pedra tosca e as madeiras que o tempo tratou. Tudo o mais é história à mesa, naquilo que a cozinha beirã oferece e inspira aos comensais. E inspira bem, julgando pela quantidade de mensagens deixadas pelos clientes em pedaços de guardanapo afixadas num painel (em cortiça, bem se veja) à entrada.

Deixemos os preâmbulos e vamos à mesa, traduzida no que se comeu e ouviu. Um almoço equilibrado entre garfadas bem temperadas de cozinha regional e palavras com travo a recados endereçados a Lisboa pelo autarca que, vai para 19 anos, “comanda” a câmara visiense.

À mesa assentavam os pratinhos de morcela e chouriça frita, afastando comedimentos e pedindo a acompanho uns nacos bem medidos de broa. Entretanto, a saladinha de polvo chegava entre pratos e pedia namoro, a despique, com os enchidos. Contiveram-se por mais algum tempo os apetites. O momento pedia discurso. Fernando Ruas assentiu e falou da “honra de Viseu ser uma cidade do interior”; mediu distâncias para concluir que estas não são somente geografia, mas também fluxos de decisão e de escolhas de vida: “a distância entre Viseu e Lisboa é igual nos dois sentidos. Há lugar no litoral, mas também há vida no interior do país”. Ruas servia, fumegante, o discurso da interioridade e, a pretexto, acrescentou-lhe o problema da educação: “por vezes, encerrar uma escola é sinónimo de fechar uma aldeia”.

Café Portugal - PASSEIO DE JORNALISTAS - Viseu
Restaurante "o Cortiço"
Café Portugal - PASSEIO DE JORNALISTAS - Viseu
Ao fundo, José Carlos Guerra,
o actual proprietário
Café Portugal - PASSEIO DE JORNALISTAS - Viseu
Fernando Ruas, presidente da Câmara Municipal de Viseu, presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses
Café Portugal - PASSEIO DE JORNALISTAS - Viseu
Aqui, no largo do Adro, frente
à Igreja da Misericórdia...
Café Portugal - PASSEIO DE JORNALISTAS - Viseu
um templo imponente
Café Portugal - PASSEIO DE JORNALISTAS - Viseu
A Sé de Viseu

Estátua de D. Duarte
(uma obra de de Álvaro de Bree)
na praça com o mesmo nome
Café Portugal - PASSEIO DE JORNALISTAS - Viseu
Porta do Soar,
uma das sete da cerca afonsina

Falou-se de obra feita e de afeições por rotundas. Fernando Ruas aceitou com esboço de sorriso o epíteto de “autarca das rotundas”. Para o responsável visiense, falar de rotundas é, sobretudo, “tratar as acessibilidades, a distribuição da circulação de e para a cidade; fomentar a economia. Para mais as rotundas podem ser elementos enriquecedores da paisagem urbana”. O tema da obra feita veio acrescentar algumas especialidades à refeição (à mesa, propriamente dita, os pratos de substância começavam a afastar os prazeres breves das entradas). Fernando Ruas sublinhou a requalificação do Campo do Viriato, novo assento para a Feira de São Mateus e a construção do funicular que ligará a parte baixa da cidade até à Calçada de Viriato, junto à Sé. A obra está orçada em dois milhões de euros e será realidade lá para Março de 2009.

A mesa estava completa. No Cortiço fazia-se jus a todas as promessas de um almoço servido com substância. A conversa prosseguiu informal, sem tom de discurso ou de circunstância. A ementa ainda prometia um tenrinho polvo frito, umas “feijocas com todos à maneira da criada do sr. abade”; o “cabrito assado no forno à pastor da serra”; um sublime arroz de carqueja.

Não se deu nota de digestões penosas.

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