27 janeiro, 2009

É este o modelo de "desenvolvimento" que querem? Fiquem com ele! Obrigado.

Vem aí mais uma ofensiva do betão:
morrem aldeias à mingua
mas salvam-se os bancos…
É a crise, dizem-nos!

Penalva de Alva, 17 de Janeiro de 2009

Eu, cidadão abaixo-assinado, escriba de profissão e jornalista por vício, venho por este meio declarar publicamente que – nunca tendo obtido lucro de especulação imobiliária ou de jogo na bolsa, nunca tendo frequentado “offshores” ou paraísos fiscais, nunca tendo pertencido á administração de loja bancária, para-bancária, ou de penhores, nunca tendo exercido responsabilidades de controlo bolsista ou de supervisão banqueira, nunca tendo experimentado financiamentos públicos, fundos perdidos, avales ou contrapartidas do Estado – me considero inocente em relação às causas efeitos e consequências do (anteriormente) chamado “crescimento negativo”, agora (já oficialmente) denominado por “recessão” e que futuramente poderá vir a ser conhecido como “deflação”.

(...)
A varanda abre-se para a encosta, prolonga-se até ao vale… a esta hora apenas suspeitado no novelo branco que cobre o Alva: um carreiro de nevoeiro que pesponta o desenho do rio.
Manhã clara de sol, com Estrela e o Açor no horizonte e, à riba do Alva, a meio dos cumes, a Aldeia das Dez e a adivinhação da estrada para a Senhora das Preces.
(..)
Vinha de uma reunião, uma assembleia, que deu para que ficasse a pensar nessa tal crise da Economia Global, enquanto ouvia gente – na sua maioria rostos já percorridos pelos sulcos da idade – interrogar o futuro dos seus pinhais ameaçados por espécies vegetais invasoras, larvas assassinas, incêndios destruidores e intermediários madeireiros que lhe levam quase tudo.

(...) deverá parecer estranho que uma meia centena de pessoas de umas aldeias à volta estivesse ali para ouvir notícias de bloqueios às ajudas de manutenção dos seus soutos e pinhais, de Planos de Gestão Florestal, de belezas e aproveitamento de medronheiros (com virtudes de aguardente de medronho), de preservação de azevinhos e azeireiros (de que o autor destas linhas, confessa, nunca tinha ouvido falar).
(...)
E fui assaltado por recordações de infância preenchidas pela figura dos guarda-republicanos a cavalo perseguindo gentes da freguesia de Sampriz (Ponte da Barca) pelo crime de levarem as suas ovelhas a pastar nos baldios do povo… de que os Florestais se haviam apossado. A par de umas palavras, ouvidas já não sei bem em que Minho ou Trás-os-Montes, que interrogavam sobre o que haveria hoje para funcionários e activistas ambientais poderem reclamar como objecto de preservação… não fora gerações e gerações de agricultores e pastores terem mantido um são convívio com o meio ambiente que habitavam; E se, defesa da diversidade das formas de vida, não deveria incluir preocupação e empenho em relação aos exemplares da espécie humana que compartilham (também) esses territórios.

(...) Num pais cada vez mais macrocéfalo, com metrópoles onde se amontoa gente e problemas de toda a espécie, aldeias que vão morrendo à mingua de habitantes e vilas, (elas mesmo) condenadas à extinção.
O betão semeado a esmo em nome do progresso, sem medidas de revitalização do tecido económico e social local, não significa vida melhor nem fixação de populações. E as auto-estradas levam mais do que trazem…

É este modelo de “Desenvolvimento” que querem para o nosso futuro como país e nação? Fiquem com ele. Obrigado!
(...)




Excertos de um texto originariamente publicado na revista
Café Portugal.
Na íntegra aqui
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